Vestir Como Ato Político

Hillary Clinton vestindo roxo no dia seguinte ao que perdeu as eleições pro Trump.

“Deputada de Santa Catarina causa polêmica ao aparecer com um senhor decote na posse – e deixar claro, depois, que não vai mudar sua forma de vestir.”

Congressistas democratas vestindo branco no State of The Union em homenagem às sufragettes – e como um reforço claro pela luta dos direitos das mulheres, nos estados unidos. “O protesto silencioso criou um manto branco que deixou o presidente Trump desconcentrado durante o seu discurso.”

Na índia, uma gangue de mulheres que caça e bate em maridos abusivos se veste toda de rosa.

As peças rasgadas e desgastadas da estética punk simbolizam um discurso anti-sistema. Os lenços palestinos, que foram “tendência” há pouco mais de uma década, antes de serem completamente esvaziados pela moda, foram usados como forma de se declarar favorável a um dos lados dessa guerra.

Os sapeurs que vivem em regiões pobres, mas fazem questão de cuidar da aparência para reforçar pro mundo que eles estão ali e importam.

A lista segue… Vestir é expressão e como tudo o que fazemos nessa vida, tem lá o seu lado político – e é disso que a gente vai falar aqui hoje!

Você pode acessar esse conteúdo por vídeo, ali em cima, ou ler os highlights aqui embaixo.

Muita gente não sabe, mas Além da formação em moda, das especializações em consultoria e de toda a experiência específica nessa área, eu nunca quis limitar os meus estudos apenas a essa área. Por isso, uma das maiores contribuições ao meu jeito de encarar essa profissão, foi a pós-graduação em sociopsicologia que eu fiz na Fundação Escola de Sociologia e Política de são Paulo. Política foi um tema que eu rejeitei por muito tempo, por acreditar que era chato e que não tinha saída, mas que eu tenho abraçado cada vez mais depois que entendi a diferença entre apolítico e apartidário e que a política está em absolutamente em todos os aspectos da nossa vida.

E o lance é que a sua imagem comunica algo o tempo todo. Pros outros e pra gente também. Tem gente que diz que imagem é cartão de visita, mas na verdade a nossa imagem é uma fofoqueira porque mesmo que a gente feche a boca – ou os olhos – ela continua falando e falando e falando uma série de coisas para os nossos interlocutores.

E não, isso nao tem a ver com a sociedade capitalista na qual a gente vive. Pensa que se fosse assim, o ser humano tinha ficado só no lance da pele e da folha pra proteger o corpo, né?

Mas ele foi incorporando outras coisas muito antes do dinnneeeero ser inventado.

E tem sempre aquelas coisas que nos escapam, mas a questão da comunicação é um dos principais motivos pelos quais é preciso se apropriar dessa ferramenta da melhor forma que a gente puder.

Falar do lado político do vestir tem diversas dimensões, esse vídeo poderia ter horas, mas nesse eu tentar levantar só alguns pontos principais pra despertar essa reflexão e te incentivar a rever a forma como você lida com as suas roupas.

Vestir Político – qual é a sua luta?

O primeiro ponto é ter clareza das coisas pelas quais você batalha.

Você pode expressar isso na sua imagem seja de uma forma mais escancarada, como uma frase estampada na sua camiseta ou conhecendo o histórico por trás da peça que você escolheu vestir. Você costuma investigar uma proposta de moda e a origem e significado dela antes de escolher usá-la porque achou “bonita”?

Para além disso, você pode continuar abraçando a sua feminilidade e o seu lado delicado, seja porque se identifica com isso ou porque não quer sucumbir aos códigos de “poder” de ambientes completamentes machista. Assim como você pode vestir roupas “masculinas” e subverter qualquer elemento por acreditar que roupa é mais uma da lista gigange de coisas da vida que não deveria estar associada a gênero.

Você pode vestir a cor do seu partido, o arcoíris da luta pela diversidade ou não vestir absolutamente nada – o não vestir também pode contar uma série de coisas.

Você pode usar a sua roupa para se destacar, para se camuflar completamente ou deixar isso para alguns detalhes. As possibilidades são infindáveis.

Perguntas importantes:

Você tem clareza daquilo pelo qual você luta?

De que forma isso já aparece na sua aparência?

Em que momentos você gostaria ou precisa escancarar essa escolha e em que momentos precisa que ela fique em segundo plano?

Definir isso é o primeiro passo.

Escolhas estéticas e política

Nas escolhas estéticas, a gente ainda pode repensar quanto, quando, como e que tipo de maquiagem a gente usa ou deixa de usar.

A forma como escolhemos cortar e cuidar do cabelo – você cede aos padrões estéticos e morre de medo do seus brancos ou assume isso?

E os cachos e texturas naturais? São incorporadas na sua aparência ou você tenta mudar isso com todas as forças?

O que motiva a sua escolha – seja ela de manter ou de mudar?

Consumo e política

O seu consumo também se conecta muito com a questão política.

As marcas nas quais você investe, o tipo de material que você usa…

Dizer que você se preocupa com outro ser humano é diferente de de fato investir o seu tempo investigando por marcas que realmente se preocupem com a remuneração justa assim como um ambiente confortável e seguro para os seus funcionários.

Comprar e cobrar de marcas que tenham preocupação com as questões ambientais na forma de fabricar os seus produtos pode ser tão efetivo quanto apoiar ONGs que monitoram essas atividades.

A quantidade de coisas que você compra, não só de roupas, mas de produtos em geral.

O quanto gasta de tempo em dinheiro em um salão de beleza fazendo as unhas, por exemplo, realmente faz com que você se sinta melhor ou na ansia de pertencer você acaba deixando de investir naquele curso ou viagem que te proporcionariam muito mais crescimento?

Investir em aparência não é o problema!

Mas investir sem consciência é uma questão mais complexa do que a gente consegue perceber. Mesmo porque a gente ainda vive em um mundo que mulheres ganham significantemente menos do que homem mas investem substancialmente mais em suas aparências.

Seja porque são estimuladas a comprar com mais frequência, seja porque muitas marcas fazem produtos femininos de qualidade igual ou inferior e preço superior ao dos produtos masculinos.

A diferença é absurda. Em cosméticos, como shampoo e condicionador, por exemplo, pode chegar ao dobro do preço ou mais.

Há algumas semanas, por exemplo, acompanhei o meu marido na seção masculina de uma loja que também tem roupas para mulheres. A surpresa: as roupas masculinas eram quase todas feitas com algodões em fios especiais, enquanto as femininas eram basicamente de acrílico e poliéster e em fios bem mais fininhos.

Quando questionei o vendedor, ele quis discutir comigo que eram os mesmos materiais. Saiu pela loja pra me mostrar as etiquetas e depois disse que retirava o que disse.

O quanto a gente aceita essa diferenciação também faz parte do nosso vestir político.

No consumo, vale pensar que mulheres gastam uma fortuna em roupas e produtos de beleza que poderiam usar para investir em ações e conquistar sua independência financeira, por exemplo.

Passam tanto tempo odiando seus corpos e gastando em mais uma dieta, que por princípio vai dar errado, que mal têm forças para olhar para o que se passa no país e no mundo – entendendo como as suas escolhas impactam a sociedade.

É tanto tempo se privando, sentindo medo de si e dos outros, que acham que a sua opinião sequer conta.

Em países que o voto não é obrigatório, a auto-objetificação faz com que muitas mulheres nem votem por acreditarem que não fazem a diferença.

Você consegue perceber a dimensão?

Então pensar no que você veste, usar a roupa que você tem vontade, escolher aquele batom vermelho, tirar do armário aquela blusa roxa ou mesmo a camiseta que nem é tão diferentona assim, mas tem uma gola com brilhinho que faz com que ela se destaque mais do que a pretinha básica, pode ser uma escolha política também.

É a escolha de afirmar pro mundo que você se sente bem consigo mesma e que tá pronta pra ocupar os seus espaços e com energia de sobra pra focar no que importa.

Declarar visualmente que você concorda ou discorda com algo, repensar o seu consumo ou mesmo não questionar nada disso e continuar da mesma forma: tudo isso diz muito sobre você e o que você espera do mundo.

O que a sua forma de se vestir anda dizendo?

O que você quer que ela conte pro mundo sobre o que você acredita?

Me conta aqui nos comentários!