O corpo interfere no estilo?
“As peças que eu gosto e que têm a ver com o meu estilo não ficam bem no meu corpo”. Todas as vezes que eu escuto isso – e não são poucas – me dá até uma coisa. Será mesmo que o corpo interfere no estilo?
Nós somos ensinadas a odiar o próprio corpo. Se uma mulher está magra, não pode ser magra. Ser gorda também não pode. Ter curvas? Não pode. É alta? Ih, também tá proibida. É baixa? Pior ainda.
Há toda uma indústria sendo movimentada por esse ódio ao corpo. Então, eu entendo de verdade a vontade de se vestir só para disfarçar ou “consertar” alguma característica física. Mas não apoio essa lógica, que fique registrado!
Alguns questionamentos sobre corpo e estilo
A cada vez que você se deparar com esse pensamento de que as peças que você gosta não ficam bem no seu corpo, eu quero que você faça algumas perguntas a si mesma. A intenção é descobrir se é verdade que a pantacourt ou a saia lápis são a máxima expressão do seu estilo e mesmo assim estão proibidas para você.
- Essa peça é mesmo do seu estilo ou você está presa na lógica do “alongar e afinar”?
- Se for do seu estilo, você está considerando mesmo o que é estrutural para você, ou só está se prendendo a definições amplas sobre “estilo básico” ou “estilo criativo”, e que só precisam ser usadas por consultoras para organizar informações?
- Você olha só para a “caixa” do seu estilo, ou entende o seu estilo no detalhe?
- E a procura pelas roupas que você quer, tá rolando de verdade ou você está esperando que um passeio em uma lojinha resolva toda a sua vida?
Nada no seu corpo é um problema
Um dos equívocos mais comuns de quem se queixa que as roupas que gosta são “proibidas” para o corpo que tem é se vestir com o objetivo de corrigir características físicas. Primeiro, porque quando a gente começa a se vestir pelo que não gosta, o tiro sai pela culatra. Invariavelmente, a gente acaba chamando a atenção para essa parte do corpo.
Para sair de casa satisfeita com o look, é muito mais eficaz começar a montá-lo pensando em destacar as partes que você gosta. Se é o seu rosto, uma blusa com detalhes na gola faria sentido. Se são as suas pernas, uma saia longa com fenda também vale. O importante é usar as roupas para se valorizar, e não para se esconder.
O segundo motivo pelo qual não faz sentido você escolher suas roupas pensando no que o seu corpo “pode” e “não pode” usar é: suas características físicas são só características. Elas só são percebidas como defeitos porque existe uma indústria que movimenta uma fortuna às custas do nosso ódio ao próprio corpo. Vale, então, se encarar no espelho sem roupa e sem preconceitos, medir cada parte do seu corpo, anotar e avaliar: será mesmo que seu quadril é desproporcional? Tem algo errado com os seus braços de verdade? A sua barriga é tudo isso de ruim que você diz?
Proibições estão proibidas aqui
Ao mesmo tempo, lidar de maneira mais gentil com o corpo é um processo e cada mulher tem seu tempo. Se você sente um incômodo muito grande com determinada parte do seu corpo, não precisa se vestir fingindo que ama o tal pedacinho. Mas é importante ter em mente que sempre existe a possibilidade de juntar o seu estilo e o seu corpo. O seu incômodo com a barriga, ou com o quadril, não precisa ser o norte de todas as suas escolhas.
Também não me venha com lista de internet com roupas ideais para corpo maçã e peças proibidas para corpo pera. Isso é uma cilada, Bino! Nenhuma dessas listas é feita pensando no seu gosto e no estilo. Além disso, o fato do seu quadril ser mais largo que a linha dos ombros não significa que ele chame mais atenção. Muitas vezes, outras características físicas tornam as informações mais distribuídas, de forma que o quadril largo, que supostamente é um ponto de desequilíbrio, sempre passa despercebido.
O corpo interfere no estilo? Não, e ambos podem andar juntos
Eu acredito em integrar as informações como caminho para conciliar corpo e estilo. E você faz isso quando pensa: eu tenho determinada estrutura de estilo, percebo meu corpo de tal forma, tenho tais informações para trabalhar e meu objetivo de comunicação visual é tal. Essas informações, trabalhadas juntas e a partir do seu contexto, te guiam rumo à junção entre esses dois aspectos seus que às vezes parecem inconciliáveis.
Uma boa pergunta para você se fazer ao montar um look é: dentro dos elementos que compõem o meu estilo, o que valoriza as melhores partes do meu corpo e, ao mesmo tempo, comunica a mensagem que eu quero passar?
O corpo não interfere no estilo, e é a partir das estruturas que compõem o seu estilo que você trabalha as informações que precisam ser organizadas na sua imagem.