Reciclando a moda

É fato que ser ‘ecofriendly’, além de necessário, de certa forma virou “modinha”.

Digo isso porque, a princípio, a preocupação maior é de se dizer preocupado com a natureza, do que realmente ser e agir.

Mas não vou discutir por aqui os méritos de algumas empresas, porque esse tema já foi muito bem abordado no artigo “O eco do fashion”, publicado no ”Página 22″ .

Independente de ser uma ação com data prevista para começar e acabar, ou algo permanente, uma das vertentes que têm ganhado mais força no sentido ecologicamente correto é o de aproveitar o que já existe.

O pensamento é: “para quê adicionar mais à montanha de roupas já existente?”.

Faz muito sentido.

Muitas vezes as pessoas doam roupas porque não servem, não gostam, ou porque deixaram de fazer parte da sua identidade e não porque a roupa está danificada.

Em minhas inúmeras visitas a brechós em cidades variadas, sempre encontrei roupas com excelente qualidade – algumas até com a etiqueta de preço!

Os brechós, aliás, estão ficando cada vez mais “profissionalizados” – é só notar a proliferação de “brechós chics” com roupas selecionadas cautelosamente, ambiente bem arrumado, confortável e que proporciona uma boa experiência de compra, enfim…

Então, realmente, porquê não aproveitar pelo menos uma parte das roupas boas que já existem no mundo?

Você não precisa usar exatamente como comprou – sempre dá para tingir, cortar, ajustar e dar uma alterada básica só para atualizar a peça.

E não me venha com a ladainha de que não sabe a energia da pessoa que usou antes, porque só o fato de você poupar a natureza de algo que demoraria sabe lá quantos anos para se decompor já transforma qualquer karma em bom!

Mas por que eu estou falando isso?

Algumas marcas e estilistas levaram a idéia adiante e estão fazendo com que roupas antigas ganhem uma cara completamente diferente.

Conheci o trabalho de Maroussia Rebeck e sua marca Andrea Crews por causa de sua palestra no Pense Moda, em novembro do ano passado. Cada roupa é pensada, transformada e recriada individualmente e, por isso, apesar de serem peças de segunda mão, a marca vende suas criações em lojas badaladíssimas como a Colette. Como disseram as meninas da Oficina de Estilo, o mais legal é que ela vê a roupa de uma maneira diferente: uma camisa, por exemplo, não precisa ser usada da maneira convencional… pode ser vestida como, sei lá, uma calça! Aqui tem um trecho da palestra em vídeo. É tudo tão incrível que se você visse os modelos sem saber a história por trás jamais imaginaria que foram feitos através de peças usadas!

Outra marca apaixonante é a Milch – que eu descobri esses dias através do TrendHunter.com. A diferença do trabalho deles é que usam apenas peças clássicas do guarda-roupa masculino que transformam em peças femininas. Diga-se de passagem, peças muito legais! Uma calça de alfaiataria pode virar um vestido, um colete com capuz e até um chapéu super estiloso!

Aqui pelo Brasil, o Morumbi Shopping traz o Projeto Moda Reciclada. Apesar de ser um projeto temporário, não deixa de ser super bacana. Principalmente porque quem passar pelo shopping poderá ver a transformação das peças num ateliê de vidro que será construído no Atrium do shopping! Vai funcionar assim: até dia 01/09 o shopping receberá doações de peças usadas que serão usadas no evento. As peças ganharão a releitura de Alexandre Herchcovitch e serão confeccionadas entre 22 e 31 de agosto pela Ong Florescer e, entre 2 e 19/9, elas serão vendidas numa pop-up store e terão sua renda revertida para a Ong.

Quem também está entrando na onda e se propôs a “reinventar roupas em um mundo já saturado delas e escasso de novidades” é Rita Wainer, que está colhendo doações para o seu projeto Born Again.

Se você estiver naquela fase economica e for dada aos trabalhos manuais, que tal se inpirar no blog “New dress a day“? Marisa, a dona do blog, resolveu passar um ano sem comprar roupas novas,apenas transformar roupas já usadas encontradas em bazares da vida. Tudo isso com um budget: US$ 365,oo para gastar em 365 dias. Embora eu não ache os resultados sempre agradáveis, a idéia é muito boa e inspira aos DIYers pelo mundo afora.

Obviamente, empresas continuarão fabricando roupas e acessórios novos.

Nem poderia ser o contrário.

A indústria têxtil ainda é uma das maiores responsáveis pela geração de empregos no país (e no mundo) e adquirir aquela roupa especial “da última moda” apenas para mimar a si mesmo, não por necessidade, vai continuar sendo sempre um carinho consigo mesmo.

Mas, a verdade é que, se pelo menos uma pequena parcela dessa indústria seguir esse direcionamento, o planeta agradecerá. E muito!

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