Nos últimos dias, tenho visto várias matérias sobre como algumas mulheres sofrem preconceito por serem bonitas e, por isso, suas chances de conquistar um bom emprego são prejudicadas.
Os especialistas entrevistados justificam este problema de duas formas:
a) inveja das mulheres responsáveis pelo processo seletivo,
b) o fato de que uma mulher bonita possa ser uma distração no ambiente de trabalho tanto para os homens, porque se verão atraídos, quanto pelas mulheres, porque sentirão inveja.
Não nego que estas são plausíveis em alguns casos. Apesar de acreditar que são minoria e que, vendo por este lado, a inveja pode não ser, obrigatoriamente, causada pela beleza, mas pelas conquistas e capacidades também. Além disso, agora sob a ótica da segunda justificativa, a ausência de beleza pode distrair tanto quanto o suposto excesso dela.
De qualquer forma, o que me desperta a atenção é que ninguém apontou a possibilidade de ao menos algumas destas mulheres terem se prejudicado não pela beleza excessiva, mas pela não adequação.
O nosso corpo possui formas, cores, texturas e toda sorte de informação visual que, consequentemente, carregam mensagens específicas que são responsáveis por boa parte da nossa comunicação não-verbal – descontando aqui os fatores postura e gestual, que também contribuem infinitamente na impressão transmitida.
Simplificando: da mesma forma que uma blusa cheia de babados, em tecido leve, maleável e de cor suave transmite uma certa ingenuidade e um paletó estruturado, de tecido pesado e recortes angulares remetem à uma maior seriedade, um rosto com traços delicados adornado por cabelos cacheados e um com o maxilar marcado e traços e características bem definidas também virão a transmitir as mesmas idéias, respectivamente.
Ou seja, um corpo mais longo e esguio, por si só, transmitirá menos sensualidade e acessibilidade do que um físico voluptuoso e curvilíneo, independente dos padrões de beleza vigentes.
Por exemplo, quando a Taylor Swift usa um vestido com decote profundo, o resultado é de uma sedução mais sofisticada, pontuada por uma certa ingenuidade, mas quando a Elizabeth Hurley usa um modelo similar, beira a linha do vulgar.
Levando isto para o ambiente de trabalho, vamos tomar como base uma combinação utilizada frequentemente, em empresas menos formais: calça jeans, blusa básica e paletó.
No primeiro caso, além do corpo com curvas volumosas, o cabelo longo, usado solto, e a maquiagem forte contribuem para a projeção de uma determinada imagem. Aqui também entra outra questão fundamental, sobre a qual já falamos recentemente: o caimento! Se Mirella Santos tivesse considerado peças mais retas e menos ajustadas e adotado maior discrição no cabelo e a maquiagem, o contraste com suas formas faria com que essa idéia de sensualidade fosse amenizada. Apesar da imagem abaixo não ser uma boa escolha de como se apresentar em uma entrevista de emprego, é corriqueiramente encontrada em diversas empresas.
Veja como quando as peças caem mais confortavelmente sobre o corpo (independente de ser mais curvilíneo ou esguio) e a maquiagem e o cabelo são usadas de forma mais limpa e discreta, a imagem projetada é completamente diferente. Captamos maior responsabilidade e sofisticação.
Mas isso não é tudo. Na imagem abaixo, o corpo, a roupa e até a pose se mantém, mas o rosto e o cabelo foram trocados. Um cabelo longo e bem volumoso comunica uma sensualidade mais carregada, especialmente quando em uma cor quente.
De volta à segunda “personagem” – para exemplificar com uma alteração menos radical – repare como mesmo a simples escolha entre cabelo solto ou preso pode afetar o resultado.
Agora avalie: qual destas três (ou quatro, se considerarmos as duas versões da segunda personagem) mulheres você contrataria? O motivo da exclusão seria realmente a beleza excessiva (visto que, segundo os padrões atuais, todas seriam consideradas igualmente bonitas) ou a adequação?
Outro ponto que me surpreendeu foi o fato de que sugestões como o uso de roupas mais clássicas e discretas sejam consideradas “enfeiadoras”.
Me surpreende porque clássico e discreto estão longe de significar careta. Usar peças clássicas em novas releituras (como um blazer com recortes diferentes, mas em cor sóbria) demonstra detalhes da personalidade do candidato e até seu cuidado em se manter bem e atual, mas dentro dos limites.
Por outro lado, qualquer pessoa que vá a uma entrevista de emprego trajando peças mais chamativas, especialmente as das últimas coleções, à primeira vista, será encarada como uma fashion victim – que se deixa levar pelas tendências porque ainda não possui opinião e gosto formados – mesmo as que trabalham com moda (uma área em que espera-se uma imagem menos tradicional). O fato de ter sido beneficiada pela natureza amplia esta percepção, é verdade, mas qualquer mulher que adote esta atitude aparentará ter dedicado a maior parte do seu tempo com cuidados estéticos do que com sua carreira e adequação ao ambiente de trabalho, mesmo as que não se inserem nos padrões atuais de beleza (e mesmo que isso não seja verdade).
Pergunto novamente: qual destas duas poderia ser escolhida? Note que, aqui, a “beleza excessiva” não pode ser utilizada como motivo, visto que são a mesma pessoa.