Muitas pessoas que atendo confessam que seu armário é repleto de peças que não usam há anos, mas que, mesmo assim, não conseguem desapegar. Aliás, todas as pessoas que eu atendo têm pelo menos uma peça dessas.
Já parou pra pensar que não é a peça que te prende, mas o sentimento?
Essa relação com os objetos sempre me intrigou. Ao longo desses anos e dos meus estudos, uma das coisas que eu tenho notado é que a dificuldade em deixar algo totalmente inútil partir está completamente relacionada ao medo do que vem pela frente. E, né… O futuro assusta.
Essa coisa de ser humano é bem engraçada… Por mais que o nosso passado seja inferior ao presente e provavelmente ao futuro, a gente ainda se apega ao que já deixou de ser. Acho que é aquela história: por pior que seja o passado, pelo menos você o conhece e tem certo controle sobre ele. E a gente gosta de ter controle. De ter segurança. E de se iludir, porque, afinal, controle é limitado.
Mas, olha, eu nem vim aqui fazer a destemida. Eu sou bem cagona, confesso. Apesar de revirar a minha vida e ser constantemente revirada por ela, também perco o sono quando penso nessa coisa de ‘futuro’. Por isso, queria que você soubesse que eu te entendo. Dá cá um abraço!
Eu vim para provocar a reflexão.
O que te aflige? O que te ilude?
Você é a futura mãe que ainda se apega aquilo que usava na adolescência, porque era melhor ter alguém responsável por você do que encarar essa responsa por alguém? A mulher que mudou de área e ainda guarda resquícios da imagem antiga, por medo das coisas não darem certo e precisar voltar? Aquela que se casou, mas continua sensualizando como se tivesse procurando companhia, porque tem medo de se entregar ao relacionamento? As possibilidades são infinitas. E, sim, todo mundo carrega um medo desses.
O negócio é: você não pode se libertar desse medo de vez. Não é tão fácil. Mas, você realmente precisa de tantas coisas que te lembrem dele diariamente?
Você pode não controlar o futuro, mas pode controlar o medo – e é isso que vai fazer a diferença mais pra frente.
Pensar em como a vida era mais confortável quando a obrigação era passar de ano na escola não vai tornar uma mãe melhor. Manter o pé na área antiga só vai criar impedimentos para que se torne a profissional que deveria ser nessa nova empreitada. Ter um estepe, caso o casamento dê errado, se não acelerar esse processo, vai tornar a vida a dois em algo insuportável. E a lista segue.
Por isso, hoje eu vim aqui só pra te ajudar a respirar fundo e olhar com carinho para essas peças, para tudo que elas representaram um dia, agradecer por essas lembranças e, finalmente, deixar que elas partam.