A imagem fala

A imagem, minha amiga, é uma fofoqueira. Ela fala mais do que aquelas senhorinhas que ficavam nas janelas, com seus bobs e lenços caricatos na cabeça, num tempo em que as cidades não tinham sido tão desconstruídas pelos prédios.

Ela denuncia toda a sua vontade de sumir na multidão e cada tentativa de se mostrar mais do que um número. Ela conta pra todo mundo o seu interesse em se impor, mesmo quando você quer acreditar que está apenas se escondendo. Ela fala.

E ela vai continuar falando. Independente do seu posicionamento político, da sua religião, da sua orientação sexual. Da sua vontade de pertencer ou de contrariar “o sistema”. Ela é aquela que jamais vai se calar. E, se você tenta fazer isso, ela grita. E grita mais ainda quando escolhas estéticas que em nada te complementam são feitas para amordaça-la.

Ela vale mais que mil palavras, mas, cuidado! Isso não quer dizer que o que tem no seu armário vale mais do que você. Porque, se você tentar fazer isso, ela vai contar também.

A imagem sempre foi algo à parte, muito antes que a gente se perdesse nos espetáculos dessa sociedade tão criticada pelo Debord. Muito antes dos espelhos do Lacan e do espelho d’água de Narciso. Ela fala tanto que, quando a gente ainda nem fala, ela fala dos desejos dos nossos pais.

Apenas experimente!

Experimente acordar mais doce. E guardar pra si aquele comecinho de paixão, aquele momento do flerte, do mero interesse, quando você quer que o mundo saiba que andam fazendo seus olhos brilharem mais, mas não conta por querer guardar para si cada uma daquelas borboletinhas no estômago. Ixe… Ela vai contar mais do que cada coraçãozinho que você desenhar mentalmente!

E, se você acordar brava, toda aquela sua vontade de construir uma muralha entre si e o mundo será dedurada. Ela também vai contar para o seu chefe e para os seus clientes a vontade que você tem de largar tudo e passar um sabático na Tailândia. Também vai contar o quanto você quer ser promovido e tomar as responsabilidades da empresa para si. Ela vai revelar quando a vaidade vier na frente do conteúdo ou daquela sua necessidade de se proteger e guardar suas ideias, por insegurança de que sejam menos que ótimas.

Não se engane, ela não guarda nada. E, enquanto você lê isso aqui, ela conta mais histórias.

Que histórias ela anda contando sobre você?