olhar para o estilo

Qual é a melhor hora para olhar para o estilo?

Sempre que eu falo sobre olhar para o próprio estilo, recebo perguntas que vão para dois extremos. O primeiro é: “Será que olhar para o estilo é para mim? Será que eu dou conta disso?”. O cenário oposto, mas também muito comum, é: “Preciso olhar para o meu estilo para mudar todo o meu armário e a minha vida!”. Se você está em um desses dois pólos, o papo hoje é com você. Será que tem um momento certo para entrar nesse processo de DR com o guarda-roupa? Se tem, qual é a melhor hora para olhar para o estilo?

Olhando ou não, você tem estilo

Se você é do primeiro time, aquele que acredita que ter estilo não é para todo mundo, deixa eu te contar uma coisa: você tem estilo, sim! Todo mundo tem. O seu tá aí dentro de você, como resultado de uma série de fatores, como a sua personalidade, as suas vivências, o que você aprendeu na vida…

Você pode não conhecer muito bem o seu estilo, pode não saber como ele se integra às situações da vida, e nem como libertar seu estilo sem chocar as pessoas (se é que elas vão ficar chocadas). Mas você tem!

Algumas pessoas não reconhecem o próprio estilo porque em vez de buscarem dentro de si, ficam pesquisando no Google, caçando regras de moda, o que vestir em corpo ampulheta… Como se as tendências ou o formato do corpo fossem mais importantes do que a personalidade. E não são. O corpo faz parte, mas ele não tem que guiar essa equação. Se você quer entender seu estilo, não pode fugir do momento de parar, respirar e olhar para si mesma e para a sua vida.

Até porque, sua imagem é fofoqueira e fala de você o tempo todo. Quando olhar para o seu estilo e aprender a expressá-lo, você vai poder controlar o que ela fala, em vez de deixar que fofoque por conta própria…

Seu estilo não vai mudar sua vida

olhar para o estilo

Foto de Andrea Piacquadio no Pexels

Caso a sua panelinha seja a do outro lado desse cabo de guerra, aquela do pessoal que acredita que vai vestir uma roupa linda e ver a vida mudar magicamente, eu tenho uma má notícia. Olhar para o seu estilo não vai fazer nenhum milagre.

Eu sei que o mundo tá cheio de histórias de pessoas que passaram por uma situação absurda, e aí foi só colocar uma roupa maravilhosa que a vida deu certo. Mas eu sou bastante cética quanto a isso. Quando escuto um caso desses, a primeira coisa que penso é que a pessoa sequer tá se dando os créditos por todo o trabalho que fez para dar a volta por cima de seja lá o que for.

Outro ponto sobre esse papo de mudar a vida mudando o guarda-roupa é: as pessoas tentam varrer os traumas para debaixo do tapete colocando uma roupa bonita e fingindo que nada aconteceu. Eu considero isso bastante problemático. Olhar para o estilo é uma forma de autoconhecimento, pode ter um efeito bacana na autoestima, mas de maneira alguma é ou substitui terapia.

Qual é o momento de olhar para o estilo, afinal de contas?

Olhar para o estilo, entendê-lo e descobrir como expressá-lo não é mágica. É um processo, e como todo processo tem seu ritmo. Por isso, eu sou a primeira a defender que você precisa estar pronta para lidar com o seu estilo, especialmente se quiser que suas descobertas sejam sustentáveis a médio e longo prazo.

Eu trabalho com consultoria de estilo há mais de uma década e, ao longo dos anos, eu fui percebendo que algumas pessoas têm melhores resultados com esse processo do que outras. As que avançam mais e levam mais aprendizados para a vida são as que já começam o processo com as informações sobre si mesmas mais organizadas.

Isso quer dizer que você precisa saber tu-do sobre si? Não. Até porque algo sempre vai nos escapar.
Mas é importante que esteja em um momento da vida que não seja transicional, e que tenha disponibilidade emocional para olhar para dentro.

Se você está em um processo de emagrecimento em que vai perder 35 quilos, ou se você está grávida, ou se pediu demissão e ainda não decidiu se casa ou se compra uma bicicleta, eu sugiro calma. Primeiro, espere a vida ficar mais estável. Deixe seu corpo completar esse processo e você se entender com a sua nova imagem no espelho. Espere o bebê nascer e você se sentir mais segura nessa nova vida. Tire um tempo para decidir os rumos que deseja tomar, comece a trilhar esses caminhos, reconheça-se neles. E aí, então, você vai se sentir em uma melhor hora para se dedicar a esse mergulho.

Olhar para o estilo é um processo

Entre os extremos “não consigo olhar para o meu estilo, vou deixar tudo se resolver sozinho” e “vou olhar para o meu estilo na quinta-feira, comprar uma roupa nova na sexta e ver a minha vida mudar no sábado”, há um meio termo saudável.

Nesse caminho do meio, a gente compreende que olhar para o estilo é um processo. E que, como todo processo, precisa acontecer gradualmente. Somos adultas e já absorvemos um monte de coisas ao longo da vida, inclusive coisas ruins. Então, esse processo de autoconhecimento precisa acontecer em camadas. A gente tem que ter tempo pra processar as informações. É como uma caixa de lenços: se você não puxar com cuidado, eles saem todos de uma vez na sua mão, e você fica lá, com 300 lenços caindo em cima de você, sem saber o que fazer com tudo isso.

Por outro lado, se o processo andar a passos lentos demais, a descoberta de hoje vai perder a validade. Em novembro de 2028, quando você decidir prosseguir com o próximo passo, o anterior já não fará mais sentido.

Curtindo o momento

O seu processo tem que fluir como esse música:

Eu amo esse vídeo porque é uma banda de um homem só tocando uma música com várias camadas. E a gente acompanha a música sendo construída, pedaço por pedaço, bem na nossa frente. Cada elemento entra na hora certa, aos poucos, respeitando o momento. E, enquanto tudo rola, o cara tá de boas, curtindo o som. Ele tem um norte, sabe o que está fazendo, e tá se divertindo com isso.

Assim deve ser o fluxo de olhar para o estilo: você olha para um pedaço, contextualiza, traz mais uma coisa, se adapta à nova informação… E curte o processo.

Eu sei que muita gente se estressa quando olha para o guarda-roupa, mas é porque tem muita ideia errada que a gente toma como certa. Tem o mito da roupa pronta, tem as comparações com gente que só aparece cheia de filtros no Instagram, tem a correria do dia a dia… Tudo isso torna o processo mais exaustivo. Mas ele precisa ser feito com gentileza, no nosso ritmo, curtindo o momento, sem a euforia do imediatismo. Vai na manha, entendendo as camadas, e de maneira contínua.

Qual é o melhor caminho para olhar para o próprio estilo?

Como eu sempre digo, qualquer que seja o tema: não tem receita pronta. Para entender seu estilo, você precisa parar, respirar e ter uma conversa sincerona consigo mesma. Tente se perguntar quais são as barreiras que você coloca entre você e o início desse processo. Será que você fica prometendo que vai olhar para o estilo quando realizar algo que sequer está sob seu controle? Quais são os momentos mágicos que você aguarda acontecerem para então se permitir olhar para si?

Outra questão que precisa vir à tona é: o que você realmente quer para a sua vida? Tem gente que vê uma foto linda do alto de uma montanha e enche o armário de roupa de escalada. Só que a pessoa odeia natureza, odeia esportes, odeia mosquito. Ela não quer escalar, ela só quer ver uma vista bonita (ainda mais em tempos de quarentena). Então, para e pensa: você tá se vestindo para se tornar algo que não é?

Calma que tem mais provocação. Você está realmente disposta a ser gentil consigo durante todo o processo? Ou você tá no modo carrinho de fricção? Vou explicar: sabe quando você puxa o carrinho de fricção para trás e depois solta? Geralmente ele sai desgovernado, anda em alta velocidade e bate na parede. Esse é o modo carrinho de fricção, e ele não é sustentável. É tipo você querer uma vida mais saudável e se lesionar fazendo mais exercício do que aguenta. É ótimo ter uma vida saudável, mas você precisa respeitar seu tempo e seus limites, né?

No caminho do amor próprio

Um ponto importante sobre o modo carrinho de fricção é que a mão que puxa o carrinho é o ódio por quem a gente é. “Eu odeio meu corpo, então vou malhar feito louca”. “Eu odeio a minha vida, então vou jogar todas as minhas roupas no mato e atear fogo”. Por favor, não viva no modo carrinho de fricção. Autocuidado é, também, sobre reconhecer-se merecedora de atenção, gentileza e afeto. E o afeto mais valioso que você tem é o seu.

Então, como seria se você se permitisse um processo de autoconhecimento, como olhar para o estilo, no fluxo do Bernhoft, etapa por etapa e curtindo o momento? Pode ser uma delícia. Bora tentar?